terça-feira, 11 de março de 2014

SELETA CURUPIRA * TEXTO Nº3 * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

SELETA CURUPIRA
Organização Antonio Cabral Filho - RJ
Letras Taquarenses Edições
*
CORDEL DOS PEÕES DA FIAT - RJ 1981

*
É MELHOR SER 
UM GREVISTA
DENTRO DA FÁBRICA
DO QUE UM
MARGINAL NA RUA!

Aos operários, companheiros,
alicerces da nação
lançamos um manifesto
de garra, luta, união
defendendo o direito
de ganhar o nosso pão.

Este parte dos operários
de uma multinacional
arbitrariamente demitidos
em defesa do capital
que os gringos querem levar
lançando-nos no lamaçal.

Somos pessoas honestas
e queremos trabalhar
derramando nosso suor
pra nossos filhos alimentar
mas o patrão com sede de lucro
não se importa de nos matar.

Os operários do Brasil
tem o seu sangue sugado
pela politicagem corrupta,
é na miséria jogado
pelas próprias leis trabalhistas
tem seu salário roubado.

Nós, os operários da FIAT
de capital estrangeiro
estamos no mesmo barco
de todos os companheiros
que por este brasil afora
trabalham sem ter dinheiro.

Na época da FNM
empresa estatal
éramos 6000 operários
e tínhamos, bem ou mal,
o emprego garantido
exportando o nacional.

Em três anos de impunidade
a FIAT conseguiu
à revelia da justiça
demitir mais de 3 mil
aumentando os seus lucros
de forma covarde e vil.

Quando a FIAT italiana
comprou nossas instalações
começaram os sofrimentos
em nossos corações,
instalaram a violência,
iniciaram as demissões.

 A FIAT  usa a demissão
como arma mortal
em época de dissídio
pra poupar seu capital,
demite dois que ganham mais
admite um ganhando mal.

Esta arma todo ano
ela usa impunemente
sem que o próprio governo
defenda a sua gente,
até muito pelo contrário
as arbitrariedades ele desmente.

Pra quem ainda não sabe
as multinacionais
pagam seus operários
com incentivos fiscais
e mesmo assim não cumprem
os acordos salariais.

Os lucros incalculáveis
eles não querem dividir
e ainda inventam crises
só pra nos demitir,
nos jogarem na miséria
sem a crise existir.

No interior da fábrica
existe um batalhão
de elementos armados
tendo até capitão
pra comandar a violência
e manter a repressão.

Em 1979
a violência foi tanta
que um elemento armado
prepotente e botando banca
atirou num operário
levando-o para a Terra Santa.

Que crise fajuta é essa
que inventaram agora
se os vampiros da FIAT
desfrutam do bom lá fora
comendo seu caviar
ganhando milhões por hora.

A alimentação que nos servem
é de má qualidade,
estraga nosso intestino,
não supre a necessidade,
nos provoca diarréia,
esta é a realidade.

Trabalhamos sufocados
sob insalubridade
respirando fumaça preta
em áreas de periculosidade
sujos de óleo e graxa
é uma grande maldade.

Criam normas de produção
que nos forçam a trabalhar
em 3 máquinas ao mesmo tempo,
não podemos reclamar,
várias peças por minuto
sem direito a descansar.

Até pra ir ao banheiro
temos o tempo controlado,
se demoramos um pouco mais
o chefe fica irritado,
nos ameaça de demissão
e corte no ordenado.

É uma grande mentira
0 serviço social,
só atende italiano
quando quer capital,
o peão quando vai lá
é tratado como animal.

Toda vez que a greve
vai a julgamento
a justiça do trabalho
tira nosso direito 
defendendo o patrão
nos declara em delito.

O operário brasileiro
vive mal alimentado
morando entre esgotos
nas encostas pendurado,
trabalha de sol a sol
e de noite é assaltado.

Aos demitidos de São Paulo
e de toda a Nação
lançamos este movimento
firmes na decisão
de alcançarmos a vitória
com a força de nossas mãos.

Conclamamos os operários
e o povo em geral
a nos dar o seu apoio
pois nossa greve é legal,
pois lutamos pelo absurdo
de trabalharmos mesmo ganhando mal.
***
Poema escrito por um peão da FIAT
durante a greve de maio de 1981
contra as demissões
de 250 companheiros de trabalho.
*
Obsevação: Este poema foi editado 
em formato livrinho de cordel
que era vendido cidade afora
para arrecadar fundos destinados 
ao comitê de greve.
Eu, Antonio Cabral Filho,
peguei várias remessas do folheto
e revendi em Copacabana e Ipanema,
aonde eu trabalhava.
*